É lá, a 1.900 metros de altitude, que o novo presidente do Fed fala nesta sexta e e pode dar pistas sobre a trajetória da política de juros dos EUA
Os caminhos da economia global estão sendo discutidos no resort Jackson Hole, isolado no meio das montanhas do estado americano do Wyoming. É lá, a 1.900 metros de altitude, que o novo presidente do Fed, o banco central americano, Jerome Powell, fala nesta sexta-feira e pode dar pistas sobre a trajetória da política de juros do país, fundamental para a dinâmica de investimentos mundo afora.
A conferência acontece desde 1978, organizado pelo Fed de Kansas, e reúne os principais acadêmicos e presidentes de Bancos Centrais do planeta. O tema deste ano é “Mudanças na estrutura de mercado e implicações para a política monetária”, e foca nos desafios da economia num momento consolidação das empresas, achatamento dos salários e dos investimentos.
Historicamente, o evento tem antecipado grandes tendências, e – em alguns casos – influenciando nos movimentos dos mercados emergentes. Vale recordar: em 2012, Ben Bernanke, presidente do Fed na época, antecipou o anúncio de uma nova rodada de estímulos monetários; em 2014, foi Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), que antecipou novos estímulos para o bloco europeu.
Este ano, em especial, marca os 10 anos pós crise de 2008. O discurso de Powell terá como título “A política monetária numa economia em transformação” e, esperam investidores, pode dar pistas sobre se a recente onda de instabilidade em países como a Turquia pode levar o Fed a interromper seus planos de aumento dos juros. Seu discurso também pode mostrar se o intenso ritmo de crescimento da economia americana será um tema levado mais em conta nas futuras reuniões do banco.
Donald Trump será um assunto obrigatório, nem que seja nas entrelinhas. O presidente americano vem cobrando Powell a reduzir o ritmo de aumento de juros. Sua política comercial, que levou a uma guerra aberta com a China e coloca em risco parcerias comerciais com a Europa e o Nafta, deve ser tratada no discurso de Powell. No mês passado, o presidente do Fed afirmou que uma economia mais protecionista é “menos competitiva”.
Qualquer declaração mais incisiva sobre a guerra comercial, ou sobre os juros, pode esquentar ainda mais a temperatura dos mercados e jogar o dólar ainda mais para cima. Seria péssima notícia para o Brasil, que vê a moeda americana em alta por sete dias consecutivos em virtude de nossa instabilidade eleitoral. O dólar abre a sexta-feira cotado a 4,12 reais. Olhos no Wyoming.